Local: OACEP (Observatório Astronômico do Colégio Estadual do Paraná) – Campo Magro
– Latitude: 25° 20′ 56.7″
– Longitude: 49° 21′ 55.9″
– Altitude: 1071m
Data: 14/05/2005
Equipe Participante:
Foram 9 participantes, relacionados a seguir:
– André Moritz Bufrem
– André Luiz Ribeiro(Sydadão)
– Fabiano Belisário Diniz
– Felipe Braga Ribas
– Guilherme Marques dos Santos Silva
– Marcelo Martins e Elaine Martins da Silva
– Mário Freitas
– Paulo Cesar Bozza
Instrumentos utilizados:
– André – Binóculo 7×50;
– Fabiano – Telescópio Maksutov Cassegrain 105mm f/14 em montagem altazimutal;
– Felipe – Binóculo Nikon 10×70;
– Felipe – Canon A95 5.1 Mpixels;
– Guilherme – Binóculo Fujinon FMT-SX 7X50;
– Guilherme – Máquina fotográfica digital Sony DSC-W1 – 5.1 MPixel;
– Guilherme – Telescópio refletor 150mm dobsoniano f/8;
– Mário – Binóculo Dia Stone 11X80;
– Mário – Binóculo Tasco 9X63;
– Paulo – Telescópio refletor 150mm dobsoniano f/5.
Condições de Meteorológicas:
Visibilidade: nenhuma nebulosidade durante toda a noite, mas presença de algum material particulado na atmosfera. Poluição luminosa intensa a sul (Curitiba), que se erguia a aproximadamente 25 graus. Nas demais direções, pouca poluição luminosa, restrita menos de 10 graus. A Lua dificultou as observações até cerca de 22:45. A magnitude limite visual (MLV) não foi verificada.
Temperatura: próxima de 20ºC no início da noite, caindo gradualmente para 15ºC no final, com sensação térmica de frio moderado próximo das 6:00 por causa do vento.
Vento: calmo e sem rajadas durante toda a noite.
Mapa Celeste
Para a noite da observação, o céu das 21:30 horas está representado abaixo:
A seguir temos a representação do céu das 01:30 horas:
E o céu das 5:30 horas:
Relatório das Observações
Observações com horários registrados
21:30 | Chegada ao OACEP. Lua crescente muito brilhante com 6 dias a partir da fase nova. | |
21:45 | Asteroide Ceres, com magnitude 6.63, na constelação de Libra (ver foto das 22:14). Ceres foi o primeiro asteroide a ser descoberto, em 01/01/1801, por Guiseppe Piazzi. Com um diâmetro de cerca de 950km, é o maior asteroide do cinturão de asteroides localizado entre Marte e Júpiter. No dia 14/05/2005 (dia da observação), ele estava a 1,6954 unidades astronômicas de distância da Terra, ou cerca de 254,31 milhões de quilômetros. | ![]() |
21:50 | O Mário mostrou aos membros a constelação da Ursa Maior, que estava parcialmente acima do horizonte. | ![]() |
21:55 | M51. Mesmo com a poluição luminosa da Lua, conseguimos visualizar as duas galáxias separadas. A imagem ao lado foi obtida pelo telescópio Hubble. | ![]() |
22:14 | Fotografado o asteroide Ceres, descrito acima. Foram 6 exposições de 15 segundos, tratadas e combinadas com o software Registax. | ![]() |
22:40 | M104 (Galáxia do Sombrero), na constelação de Virgem. Trata-se de uma galáxia espiral quase vista de lado, com magnitude 9.5 que está a cerca de 50 milhões de anos-luz distante da Terra. Ela aparece com 8.9 por 4.1 minutos de arco, próxima ao asterismo conhecido como Tubarão e de outro de nome Stargate. | ![]() |
23:12 | M83 (Southern Pinwheel Galaxy), na constelação de Hydra. Esta galáxia teve pelo menos 4 supernovas registradas nos últimos 80 anos, aproximadamente 4 vezes mais do que se prevê para uma galáxia do seu porte. Ela está a cerca de 15 milhões de anos-luz de distância de nós e se apresenta com magnitude 8 e tamanho angular de 13 minutos. Foi a primeira galáxia descoberta fora do nosso grupo local de galáxias. | ![]() |
23:23 | M68, um aglomerado globular em Hydra. Distante 33.000 anos luz da Terra, é visto com magnitude 9 e 8.8 minutos de arco. Aglomerados globulares são conjuntos de vários milhares (às vezes mais de um milhão) de estrelas que interagem por gravidade umas com as outras, formando quase uma esfera extremamente rica visualmente. | ![]() |
23:31 | NGC4361, é uma nebulosa planetária na direção da constelação do Corvo, com magnitude aparente de 10.9. As nebulosas são nuvens de poeira, hidrogênio, hélio e plasma. Uma estrela antes de se transformar em uma anã branca, é uma gigante vermelha que ejeta grandes quantidade hidrogênio, que vemos na foto ao lado. O nome nebulosa planetária nada tem a ver com um planeta, a não ser a aparência próxima da de Urano, quando vistos por telescópio. | ![]() |
23:40 | NGC 4699, uma galáxia de magnitude 10.4 e 2.8 minutos de arco, em Virgem. Apesar da magnitude alta e do peque tamanho angular, este objeto foi fácil de encontrar, devido à sua proximidade com Júpiter e com a estrela Spica, em Virgem, no dia da observação. | ![]() |
00:05 | M63 (Galáxia do girassol), na constelação do cão de caça. Com magnitude 8.5 a distante 37 milhões de anos luz da Terra, mostra-se com um tamanho de 16 minutos. É uma galáxia espiral barrada e forma um grupo local com a M51, observada às 21:55, e com muitas outras galáxias menores. | ![]() |
00:20 | Júpiter. O maior planeta do sistema solar, com 317,8 vezes a massa da Terra e 142.984 km de diâmetro equatorial. Hoje, não estava com a grande mancha visível, mas mostra suas faixas equatoriais do norte e do sul bem visíveis e 4 de seus 63 satélites, sendo Calisto, Ganymede e Europa a leste do planeta e Io a oeste. | ![]() |
00:40 | M94 (não observada). Após uma tentativa frustrada de vê-la próxima ao horizonte (cerca de 11 graus de altura), desistimos. Mas a sua localização foi confirmada e acreditamos que ela não pôde ser vista por falta de contraste com o céu nesta altura. Esta galáxia também é conhecida como galáxia do olho de gato. Possui magnitud9.5 e está a 14 milhões de anos luz de nós. É uma espiral cercada por um anel de estrelas muito jovens e brilhantes. | ![]() |
00:57 | M11 (aglomerado do pato selvagem), um aglomerado aberto de magnitude 5.8 e 13 minutos de arco. Aglomerados abertos são também grupos de estrelas como os globulares, mas formados por menos estrelas, algumas dezenas, centenas ou milhares de estrelas. | ![]() |
01:02 | M107, um aglomerado globular na constelação de Ophiuchus. Distante 21000 anos-luz e com magnitude 10, é um globular cercado por um campo de estrelas de magnitudes próximas a 11. | ![]() |
01:08 | M9, um aglomerado globular de magnitude 9 e tamanho angular 13 minutos na constelação de Ophiucus. Sua distância à Terra é de 27000 anos-luz e sua proximidade aparente com o centro da Via Láctea o torna um objeto difícil de destacar do fundo brilhante. | ![]() |
01:20 | M8 (Nebulosa da lagoa), na constelação de Sagitário. Extremamente brilhante, com magnitude 5, é uma nebulosa difusa. As nebulosas são compostas por hidrogênio, que quando estão próximas a estrelas, são ionizadas e brilham com tons que podem variar do vermelho ao azul. Há também as nebulosas escuras, que bloqueiam a luz, tornando-se manchas escuras no céu, como o saco de carvão, próximo ao Cruzeiro do Sul. O saco de carvão estava visível nesta observação. | ![]() |
01:21 | M20 (Nebulosa Trífida). Esta nebulosa de magnitude 5 é ao mesmo tempo uma nebulosa quente vermelha de emissão formada de hidrogênio cercada por uma nebulosa azul de reflexão feita de partículas de poeira. Ela leva o nome de Trífida por causa da matéria escura que a divide em 3 partes na região mais ao sul. | ![]() |
01:22 | M22, um aglomerado globular de magnitude 5.09 em Sagitário, com 24 minutos de tamanho angular. Extremamente brilhante e bem visível ao binóculo. | ![]() |
01:27 | M57 (nebulosa do anel). Uma nebulosa planetária muito bonita, que mostrou o seu interior escuro com visão lateral. Sua magnitude é de 8.8 e seu tamanho angular de apenas 1.4 minutos. | ![]() |
01:37 | Marte. O quarto planeta a partir do Sol, com cerca de metade do diâmetro da Terra. Nessa época, ele ainda está muito afastado da Terra para permitir uma observação mais detalhada. Não foi possível ver detalhes em sua superfície, nem a calota polar, que normalmente brilha bastante. | ![]() |
01:42 | Asterismo do Coathanger (cabide), ou ou aglomerado de Brocchi. Um asterismo é uma configuração de estrelas que não chega a ser uma constelação, mas tem um formato que é facilmente reconhecido. Formado por mais de 30 estrelas, este asterismo está na constelação de Vulpecula e dista apenas 400 anos-luz de nós. Suas principais estrelas têm a mesma faixa de magnitude (5 a 7). Tem um tamanho angular de 1.8 graus. | ![]() |
02:00 | M27 (nebulosa do haltere). Uma nebulosa planetária maravilhosa na constelação de Vulpecula que está a 1000 anos-luz de distância e tem tamanho angular de 13 minutos de arco. Tem magnitude 7.5 e é a mais brilhante nebulosa planetária do céu e a primeira a ser descoberta. | ![]() |
02:15 | Albireo. Uma estrela dupla muito bonita em Cygnus, com uma componente azul e outra amarela, separadas por 34 segundos. Estas estrelas, que estão a 386 anos-luz de distância da terra, são um show que não pode ser perdido durante uma observação. | ![]() |
02:55 | M62, em escorpião, um pequeno globular com magnitude 6.7 e tamanho 14 minutos de arco. | ![]() |
02:58 | M10, um bonito globular de magnitude 7,5 e tamanho angular 25 minutos, na constelação de Ophiuchus, distante 14000 anos luz da Terra. | ![]() |
03:04 | M24 (Delle Caustiche ou nuvem de estrelas de Sagitário). É uma verdadeira “janela” para a Via Láctea, sendo uma porção muito rica do braço espiral de Sagitário. Uma área de 1 por 2 graus, extremamente populosa em estrelas, onde está o M24, um aglomerado aberto com nebulosidade. | ![]() |
03:06 | M28, um globular de magnitude 8,5 e tamanho 18 minutos de arco, na constelação de Sagitário. Ele contém um “pulsar de milissegundo”, uma estrela de nêutrons que gira várias centenas de vezes por segundo. | ![]() |
03:15 | M69, um pequenino e fraco globular também em Sagitário, que foi muito difícil de localizar pois estava muito próxima do zênite. Com o telescópio de montagem azimutal, esta posição torna a movimentação difícil. M69 está a 28000 anos-luz de nós e tem apenas 8.2 minutos de arco e magnitude 9. | ![]() |
03:55 | M15 (Aglomerado de Pégasus), um globular muito populoso de estrelas, com tamanho angular de 31 minutos e magnitude 7.5, localizado na constelação de Pégasus. Apenas alguns aglomerados, como o M15, são conhecidos por terem uma nebulosa planetária em seu interior. | ![]() |
04:47 | Flare do Iridium 3, com magnitude -5, extremamente visível com o céu escuro ao norte do observatório. Apesar do flare acontecer a apenas 14 graus de altura, foi um show imperdível. Os Flares Iridium são brilhos extremos que acontecem no momento exato em que uma ou duas de suas antenas refletem a luz do Sol diretamente para os nossos olhos. Eles, por alguns segundos, tornam-se o objeto mais luminoso do céu, assustando os desavisados! Este satélite foi lançado na China, em 19 de agosto de 1998 e no momento da observação estava a 2058 km de distância de nós, com seu tamanho de apenas 20 metros e suas antenas têm o tamanho de uma porta comum. | ![]() |
05:28 | Deitamos no chão do observatório para ver meteoros, aproveitando os últimos minutos de escuridão. Vimos vários deles, embora não tenhamos conseguido reconhecer nenhum radiante (origem dos meteoros). | |
06:00 | Nesse horário, o Mário percebeu um ponto muito luminoso atrás de uma árvore a leste do observatório. Ficamos discutindo se poderia ser Vênus ou Mercúrio, pois Vênus estaria bem mais próximo do Sol nessa época e parecia muito brilhante para ser Mercúrio. Esperamos até as 6:25, quando o objeto saiu de trás do observatório e pôde ser visto com o telescópio. Parecia realmente ser Mercúrio, por causa do seu tamanho na ocular. Apresentava uma fase de pouco mais de um crescente, bem perceptível. Mais tarde confirmamos que era Mercúrio. | ![]() |
Observações sem horários registrados:
- Via Láctea: A Via Láctea esteve visível durante toda a noite, sendo um show à parte! Esta foto foi tirada próximo da 01:30 da manhã, sendo o resultado de 5 exposições sem zoom com 30 segundos, combinadas com o software Registax. Ao centro, aparece parte das constelações de Escorpião e Sagitário, região do núcleo da Via Láctea.
- Satélites Artificiais: Foram avistados 7 satélites artificiais, durante as observações, sendo que um deles o Mário viu pela ocular do telescópio, por acaso.
- Sirius com brilho psicodélico: A mais brilhante estrela no céu, uma estrela binária e variável de magnitude média -1.47 que fica a 8.6 anos luz de nós, apresentava um brilho muito interessante, quando próxima do horizonte. O Fabiano localizou-a em seu telescópio e desfocou levemente, o suficiente para vermos um “show de luzes” que alternava entre o branco, amarelo, vermelho, verde, azul e lilás! O efeito é devido à refração atmosférica que ocorre com mais intensidade quando uma estrela está baixa no céu. O mesmo efeito cria a ilusão de que as estrelas “piscam”.
- M4: Um belo aglomerado globular em Escorpião, com magnitude 7.5 e tamanho angular de 31 minutos de arco, aparece facilmente em um céu escuro como o do OACEP. Com 10 bilhões de anos de idade e distante apenas 7200 anos-luz de nós, é o mais próximo globular conhecido. Ele apresenta também partes obscurecidas por nuvens de matéria interestelar.
- M71: Aglomerado globular em Sagitta, pequeno e pobre de estrelas, se comparado a outros aglomerados. Tem magnitude 8.5 e apenas 6.7 minutos de arco e dista 13000 anos-luz de nós.
- 47 Tucanae (NGC 104): É o segundo maior e o segundo mais brilhante globular no nosso céu. É visível a olho nu com magnitude 4 e impressionantes 54 minutos de arco! Situa-se a 13000 anos-luz de nós e está se aproximando a 19km/s.
- Ômega Centauri (NGC 5139): O maior e mais impressionante globular do céu! Com mais de um milhão de estrelas e uma massa de mais de 5 milhões de massas solares, ele pode ser o resquício de uma galáxia que foi anexada à Via Láctea num passado remoto. Visível a olho nu, sua magnitude é 3.7 e seu tamanho angular é igual a 36 minutos de arco, maior que a Lua cheia! Este aglomerado foi descoberto em 1677 por Edmond Halley.
- Constelação do Cruzeiro do Sul e Centauro: Foto do Felipe, membro do CACEP, feita durante a saída de campo.
- lare Iridium: Foto do Felipe, membro do CACEP, feita durante a saída de campo, às 4:47 da manhã.
- Constelação de Escorpião: Foto do Felipe, membro do CACEP, feita durante a saída de campo.
- Constelação do Cruzeiro do Sul, com Carinae e Vela: Foto do Felipe, membro do CACEP, feita durante a saída de campo, com Curitiba ao fundo.
- Conjunção entre Marte e Urano: Foto do Felipe, membro do CACEP, feita durante a saída de campo. Os dois planetas encontravam-se a pouco mais de um grau de distância um do outro.
- Amanhecer em Campo Magro: Foto do Felipe, membro do CACEP, feita durante a saída de campo.
Conclusão
Mesmo com a presença de algum material particulado no ar e com a poluição luminosa moderada ao Sul, a noite foi extremamente proveitosa, com vários objetos inéditos para os membros do CACEP. Foi de particular importância, também, o clima excepcional de companheirismo entre os associados, o que faz com que as observações sejam ainda mais gratificantes.
É impressionante a quantidade de objetos observados e a qualidade das observações, com a participação efetiva dos sócios em cada uma delas. Os objetos observados, em ordem alfabética, são: Albireo, Asterismo do Coathanger, Asteroide Ceres, Constelação da Ursa Maior, Iridium 3, Júpiter, M4, M8, M9, M10, M11, M15, M20, M22, M24, M27, M28, M51, M57, M62, M63, M68, M69, M71, M83, M104, M107, Marte, Mercúrio, NGC 104, NGC 4699, NGC 4361, NGC 5139, Sirius, Via Láctea. Parabéns ao CACEP por mais esta vitória!
- Relatório escrito por: Guilherme Marques dos Santos Silva